quarta-feira, 16 de março de 2011

Como os animais dizem"Te amo"...


Os animais costumam misturar ternura e agressividade em seu relacionamento amoroso. É a sábia natureza que os faz assim, para garantir que as espécies se reproduzam e sobrevivam. E os obriga as estranhos rituais, marcados por lutas de vida e morte, fantásticos truques de sedução, cuidados com as crias. O amor e o ódio se tocam. O primeiro pode, inesperadamente, se transformar no segundo. E vice-versa. No reino animal, esta máxima toma a força de quase uma lei.

Quem já teve a oportunidade de presenciar os jogos amorosos de um casal de rinocerontes, por exemplo, percebeu isso: machos e fêmeas dão encontrões violentos vezes e vezes seguidas, como se estivessem fazendo guerra e não amor. Mas quando livres de sua agressividade tudo se transforma. Tal como entre os humanos, entre os bichos também não é fácil a vida de um macho conquistador. Dele se espera que seja corajoso, fisicamente forte e dono de uma extraordinária imaginação. Pois quase sempre precisará passar por provas complicadas, sendo obrigados a cantar de forma especial ou a exibir plumagens elegantes, perfumes sedutores, praticar gestos que em qualquer outra situação pareceriam ridículos. Mais comum é ele precisar enfrentar batalhas de vida ou morte com os machos interessados na mesma namorada, ou então com a própria eleita do seu coração.


Veja-se o que acontece com o tigre, por exemplo. Para chegar ao acasalamento,o macho precisa de uma grande paciência para acalmar a fêmea, que rosna, negaceia, dá-lhe patadas. Uma vez consumada a fecundação, ele precisará fugir rapidamente, pois a companheira terá uma invencível vontade de matá-lo. E, ainda assim, se o nosso herói for persistente, acabará por estabelecer com essa parceria uma relação duradoura, capaz de produzir muitos tigrezinhos no futuro - e outras tantas ameaças de assassínio. Um romance entre aranhas pode ter o final parecido para o macho, em geral menor e mais fraco, não tomasse o cuidado de se apresentar a sua eleita com um presente galante - um petisco qualquer para saciar seu apetite.


Rãs, ao contrário, são mais românticas e sexualmente liberadas. Ao macho, basta manifestar seu desejo coaxando de uma maneira especial : se a resposta vier no mesmo tom, tudo bem. Ele precisará então arranjar um companheiro, pois os encontros amorosos da espécie são sempre festivos, coloridos e coletivos. Mas o traço mais característico e comum do amor entre os animais é a agressivamente. Que não é gratuita nem questão de temperamento, mas tem uma profunda significação. Ela se destina tanto a proteger um território onde apenas um macho deve reinar soberano, como a selecionar os mais fortes da espécie, para que apenas eles produzam filhotes igualmente fortes; ou, finalmente, a proteger as crias, que jamais podem confundir com as crias de outro casal.Leões e leoas são assim. Bravos e mal-humorados com estranhos, fazem tudo para defender seu território e suas crias. Essa agressividade, portanto, é indispensável para garantir a sobrevivência das espécies. Mas, se sofrem algum tipo de controle, podem levar também ao caos e ao extermínio.


Por isso mesmo a natureza costuma dotar os animais de bloqueios, para evitar que sua disposição para a luta não ultrapasse os limites da conveniência.E é surpreendente verificar como as formas de vida das diferentes espécies está relacionada com a agressividade dos seus membros. Se machos e fêmeas são pacíficos, formarão colônias; se só o macho é agressivo, formarão haréns; se ambos são agressivos, formarão um par capaz de manter uma longa união monogâmica.


Fonte: http://www.faunadobrasil.com.br/

quarta-feira, 2 de março de 2011

Máquina de Escrever X Computador

Nesse texto de Luís Fernando Veríssimo, é descrito com bastante humor sobre tempos remotos, onde os computadores eram máquinas temíveis. Como foi difícil se desprender da velha amiga máquina de escrever ( risos ).Divirta-se:



Para começar ele nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que agente olha de cima,com superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico,mostre o que você sabe fazer. A máquina de escrever faz tudo o que você manda,mesmo que seja a tapa. Com o computador é diferente. Você faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Simplismente ignora você. Mas se apenas ignorasse ainda seria suportável. Ele responde. Repreende. Corrige. Uma tela vazia, muda, nenhuma reação aos nossos comandos digitais, tudo bem. Quer dizer, você se sente como aquele cara que cantou a secretária eletrônica. É um vexame privado. Mas quando você o manda fazer ,mas manda errado, ele diz 'Errado'. Não diz 'Burro', mas está implícito.É pior, muito pior. Ás vezes, quando agente erra, ele faz 'bip'. Assim para todo mundo ouvir. Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e meia errava. E lá vinha ele: 'Bip'! 'Olha aqui pessoal, ele errou'. 'O burro errou'.

Outra coisa ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando outro igual a ele o estiver programado. A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria 'bip' em público.

Dito isto, é preciso dizer também que quem provou pela primeira vez suas letrinhas dificilmente voltará à máquina de escrever sem a sensação de que está desembarcando de uma Mercedes e voltando a carroça. Está certo, jamais teremos com ele a mesma confortável cumplicidade que tínhamos com a velha máquina. É outro tipo de relacionamento, mais formal e exigente. Mas é fascinante. Agora compreendo o entusiasmo de gente como Millôr Fernandes e Fernando Sabino, que dividem a sua vida profissional em antes dele e depois dele. Sinto falta do papel e da fiel BIC, sempre pronta para inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora, e que nele foi substituída por um botão, que, além de mais rápido, jamais nos sujará os dedos, mas já estou sucumbindo. Sei que nunca seremos íntimos, mesmo porque ele não ia querer se rebaixar a ser seu amigo, mas retiro tudo o que disse sobre ele. Claro que você pode concluir que eu só estou querendo agradá-lo, precavidamente, mas juro que é sincero. Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina. Sabendo que ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha.

Texto: Tecnologia Autor: Luis Fernando Veríssio

Powered By Blogger